O Retrato de Dorian Gray - Cap. 13: Capítulo 13 Pág. 234 / 335

Depois, se lhe aprouver, pode ir contar a toda a gente o que viu. Ninguém o acreditaria. Se o acreditassem, ainda mais me estimariam. Conheço a nossa época melhor do que você, embora sobre ela palre enfadonhamente. Venha, digo-lhe. Esteve aí a dissertar sobre a corrupção. Vai vê-la cara a cara!...

Havia em cada palavra que proferia o desvairo do orgulho. Batia com os pés no chão, nos seus modos de rapaz insolente. Sentia um terrível júbilo em pensar que alguém ia partilhar do seu segredo e que o homem que pintara o retrato - origem de todo o seu opróbrio - carregaria para o resto da sua vida com a recordação hedionda do que fizera.

- Sim - prosseguiu, aproximando-se dele e fitando-lhe os olhos sérios. - Vou mostrar-lhe a minha alma.

Vai ver a coisa que imagina só Deus poder ver.

Hallward recuou.

- É uma blasfémia, Dorian! - exclamou. - Não deve dizer coisas dessas. São horríveis, nada significam.

- Acha?

Riu-se de novo.

- Sei que assim é. Quanto ao que lhe disse há pouco, disse-lho para seu bem. Sabe que sempre fui seu amigo dedicado.

- Não me toque. Acabe o que tem a dizer.

Uma contracção dolorosa vincou o rosto do pintor.

Parou por um momento, e sentiu-se avassalado por uma piedade imensa. Afinal de contas, que direito tinha a imiscuir-se na vida de Dorian Gray? Se ele havia feito a décima parte do que a seu respeito se boquejava, quanto devia ter sofrido!





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