Você dispõe duma prodigiosa influência. Utilize-a para o bem, não para o mal. Dizem que corrompe todos aqueles com quem cria intimidade, e que basta a sua entrada numa casa para a vergonha a infamar. Não sei se é assim ou não. Como o havia eu de saber? Mas dizem-no a seu respeito. Disseram-me coisas que parece impossível pôr em dúvida. Lord Gloucester era um dos meus melhores amigos em Oxford. Mostrou-me uma carta que a esposa lhe escrevera, quando estava a morrer, sozinha, na sua villa de Mentone. O seu nome achava-se envolvido na confissão mais terrível que eu jamais ouvi. Disse-lhe que era absurdo, que o conhecia perfeitamente, que você era incapaz de assim proceder. Disse-lhe que o conhecia! Conheço-o, porventura? Pergunto-o a mim mesmo... Para poder responder, teria de lhe ver a alma!...
- Ver-me a alma! - murmurou Dorian Gray, levantando-se do sofá e pondo-se quase lívido de medo.
- Sim - respondeu Hallward, gravemente e com a voz abafada pela emoção -, ver-lhe a alma. Mas só Deus é que a pode ver.
Dos lábios do jovem saltou uma acerba risada de escárnio.
- Vai vê-la já! - exclamou, agarrando num candeeiro. - Venha: saiu das suas mãos. Porque não há-de contemplar a sua obra?