Dorian era um dos seus predilectos: dizia-lhe sempre que estimava imenso não o ter encontrado no verdor da juventude.
- Sabe, meu caro, apaixonar-me-ia por si - dizia ela às vezes - e, por sua causa, teria feito todas as tolices. Foi uma felicidade não o conhecer. O facto é que nunca tive namoro com ninguém. E a culpa era toda do Narborough. Era terrivelmente míope, e não há prazer nenhum em enganar um marido que não vê nada.
Os seus convidados estavam aquela noite um tanto aborrecidos. O motivo era, explicou ela a Dorian, por trás dum leque já velho, ter-se-lhe uma das suas filhas casadas instalado inesperadamente em casa, e, o que pior era ainda, acompanhada do marido.
- Acho que procedeu muito mal - murmurou. Eu, é claro, vou todos os anos passar o Verão com eles, no regresso de Homburg; mas uma velha como eu tem às vezes precisão de ar puro, e, além disso, a minha estada dá uma certa animação. Não imagina que existência é a deles. É a vida aldeã em toda a sua pureza. Levantam-se cedo, porque têm muito que fazer, e deitam-se cedo, porque têm muito pouco em que pensar.