A República - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 14 / 290

— Mas, pela sua arte, pode o músico tornar ignorante em música?

— Impossível.

— E, pela arte equestre, pode o picador tornar inapto para montar a cavalo?

— Não é possível.

— Portanto, pela justiça, pode o justo tornar alguém injusto; ou, numa palavra, pela virtude, os bons podem tornar os outros maus?

— Não podem.

— Com efeito, não é próprio do calor, penso eu, arrefecer, mas o contrário.

— Assim é.

— Nem da seca molhar, mas o contrário.

— Sem dúvida.

— Nem do homem bom ser prejudicial, mas o contrário.

— Assim parece.

— Mas o justo é bom?

— Sem dúvida.

— Por conseguinte, não é próprio do justo ser prejudicial, Polemarco, nem a um amigo nem a ninguém, mas é próprio do seu contrário, do injusto.

— Creio que falas inteiramente verdade, Sócrates — confessou ele.

— Portanto, se alguém afirma que a justiça consiste em restituir a cada um o que se lhe deve e se entende por isso que o homem justo deve dano aos inimigos e serviço aos amigos, não é sábio o que defende tais ideias Com efeito, não diz a verdade: é que em nenhum caso e a ninguém no. pareceu justo fazer mal.





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