A República - Cap. 5: Capítulo 5 Pág. 153 / 290

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- Tens razão - confessou.

- Ora, achas qua a habilidade de um pintor fica diminuída se, depois de ter pintado o mais belo modelo de homem e dado à sua pintura todos os caracteres adequados, for incapaz de demonstrar a existência de semelhante homem?

- Não, por Zeus, não acho.

- Mas que fizemos nós até agora senão traçar o modelo de uma boa cidade?

- Nada mais.

- Achas então que o que dissemos seria menos bem dito se fôssemos incapazes de demonstrar que se pode fundar uma cidade com base nesse modelo?

- Por certo que não.

- É esta, portanto, a verdade - disse eu. - Mas, se quiseres que tente demonstrar, para te dar prazer, de que modo particular e em que condições semelhante cidade é realizável no mais alto grau, faz-me de novo, para esta demonstração, a mesma concessão de há pouco.

- Qual?

- É possível executar uma coisa tal como se descreve? Ou está na natureza das coisas que a execução tenha menos influência sobre a verdade que o discurso, embora alguns não acreditem nisso? Mas tu concordas ou não?

- Concordo.

- Então não me forces a mostrar-te completamente realizado o plano que traçámos no nosso discurso. Se estivermos em condições de descobrir como, de uma maneira muito próxima da que descrevemos, uma cidade pode ser organizada, confessa que descobriremos que as tuas prescrições são realizáveis. Não ficarás contente com este resultado? Por mim, ficarei.

- E eu também - disse ele.

- Parece que agora devemos procurar descobrir e mostrar que vício interior impede as cidades actuais de serem organizadas como dizemos e qual é a menor mudança possível que as conduzirá à nossa forma de governo: de preferência, uma só, ou então duas, ou então as menos numerosas e as menos importantes que for possível.

- Perfeitamente.

- Ora, nós julgamos poder demonstrar que, com uma única mudança, as cidades actuais seriam completamente transformadas; é certo que esta mudança não é nem pouco importante nem fácil, mas é possível.

- Qual é?

- Eis-me chegado ao que nós comparávamos à vaga mais alta: mas tenho de dizê-lo, mesmo que isso, como uma vaga viva, me cubra de ridículo e vergonha. Atenta no que vou dizer.

- Fala.





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