A República - Cap. 7: Capítulo 7 Pág. 195 / 290

A verdade é esta: a cidade onde os que devem mandar são os menos apressados na busca do poder é a mais bem governada e a menos sujeita à sedição e aquela onde os chefes revelam disposições contrárias está ela mesma numa situação contrária.»

- Perfeitamente - disse ele.

- Ora bem! Achas que os nossos alunos resistirão a estas razões e se recusarão a participar, alternadamente, nos trabalhos do Estado, passando, por outro lado, juntos a maior parte do seu tempo na região da pura luz?

- É impossível- respondeu -, porque as nossas prescrições são justas e dirigem-se a homens justos. Mas é certo que cada um deles só chegará ao poder por necessidade, contrariamente ao que fazem hoje os chefes em todos os Estados.

- Sim - concordei -, é isso mesmo, camarada; se descobrires para os que devem mandar uma condição preferível ao poder, ser-me-á possível ter um Estado bem governado; com efeito, neste Estado só mandarão os que são verdadeiramente ricos, não de ouro, mas dessa riqueza de que o homem tem necessidade para ser feliz: uma vida virtuosa e sábia. Pelo contrário se os mendigos e os esfomeados de bens particulares procurarem os negócios públicos, convencidos de que é neles que podem meter a mão, isso não te será possível; as pessoas batem-se então para obterem o poder e esta guerra doméstica e intestina perde não só os que a travam, como também o resto dá cidade.

- Nada mais verdadeiro - disse ele.

- Ora, conheces outra condição, além da do verdadeiro filósofo, para inspirar o desprezo pelos cargos públicos?

- Não, por Zeus!

- Por outro lado, é preciso que os enamorados do poder não lhe façam a corte, de outro modo haverá lutas entre pretendentes rivais.

- Sem dúvida.

- Por conseguinte, a quem imporás a guarda da cidade, a não ser aos que conhecem melhor os meios de bem governar um Estado e que têm outras honras e uma condição preferível à do homem público?

- A mais ninguém.

- Queres que examinemos agora como se formarão homens com este carácter e como os faremos subir para a luz, como se diz que alguns subiram do Hades à mansão dos deuses?

- Porque não haveria de querer?

- Não será, aparentemente, um simples jogo da malha, tratar-se-á de operar a conversão da alma de um dia tão tenebroso como a noite para o dia verdadeiro, isto é, elevá-la até ao ser; e é o que chamaremos a verdadeira filosofia.

- Perfeitamente.

- Temos de examinar qual é, entre as ciências, a que está em condições de produzir este efeito.





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