- Mas que dizes? Se o povo se irrita e pretende que não é justo que um filho na flor da idade esteja a cargo do pai, que, pelo contrário, o pai deve ser alimentado pelo filho; que não o trouxe ao mundo e o criou para ele próprio se tornar, quando o filho for grande, o escravo dos seus escravos e para o alimentar com esses escravos e a corja de criaturas que o rodeiam, mas sim para ser desembaraçado, sob o seu governo, dos ricos e daqueles a quem se chama gente honrada na cidade; que agora lhe ordene que saia do Estado com os seus amigos, como um pai expulsa o filho de casa, com os seus indesejáveis convivas...
- Então, por Zeus!, saberá o que fez quando procriou, acariciou, criou semelhante filho, e aqueles que pretende expulsar são mais fortes do que ele.
- Que dizes? - gritei. - Ousaria o tirano violentar o seu pai e até, se ele não cedesse, feri-lo?
- Sim - respondeu -, depois de o ter desarmado.
- Pelo que dizes, o tirano é um parricida e um triste apoio dos velhos; e eis-nos chegados, segundo parece, ao que toda a gente chama a tirania: o povo, de acordo com o ditado, evitando o fumo da submissão a homens livres, caiu no fogo do despotismo dos escravos e, em troca de uma liberdade excessiva e inoportuna, vestiu a libré mais dura e mais amarga das servidões.
- Com efeito, é o que acontece:
- Ora bem! Estaremos enganados se dissermos que explicámos adequadamente a passagem da democracia à tirania e o que é esta, uma vez formada?
- A explicação serve perfeitamente - respondeu.