A República - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 28 / 290

— Se acho? Por Zeus, tenho a certeza!

— Mas como, Trasímaco! — retorqui. — Não notaste que ninguém aceita exercer os outros cargos por eles mesmos, que, pelo contrário, se exige uma retribuição, porque não é ao próprio que o seu exercício aproveita, mas aos governados? Depois, responde a isto: não se diz sempre que uma arte distingue-se de outra por ter um poder diferente? E, homem bem-aventurado, não respondas contra a tua opinião, a fim de que possamos avançar!

— Mas é nisso — disse — que ela se distingue.

— E cada um de nós não procura obter um certo beneficio particular e não comum a todos, como a medicina a saúde, a pilotagem a segurança na navegação e assim por diante?

— Sem dúvida.

— E a arte do mercenário, o salário, visto que reside ai o meu próprio poder? Confundes juntamente a medicina e a pilotagem? Ou, para definir as palavras com rigor, como propuseste, se alguém recupera a saúde governando um navio, porque é vantajoso para ele navegar no mar, chamarás por isso medicina à sua arte?

— Com certeza que não — respondeu.

— Mas como! Chamarás à medicina arte do mercenário porque o médico, ao curar, ganha salário?

— Não — disse ele.

— Não reconhecemos que cada arte procura obter um beneficio particular?

— Seja — admitiu.

— Portanto, se todos os artesãos beneficiam em comum de um certa lucro, é evidente que acrescentam à sua arte um elemento comum de que tiram proveito?

— Assim parece — disse ele.





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