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Capítulo 1: Capítulo 1

Página 27

Depois de falar assim, Trasímaco dispunha-se a ir embora, após ter, como um banhista, inundado os nossos ouvidos com o seu impetuoso e abundante discurso. Mas os assistentes não lho permitiram e forçaram-no a ficar para justificar as suas palavras. Eu próprio insisti com ele e disse-lhe:

— Ó divino Trasímaco, depois de nos teres feito um tal discurso, pensas em ir embora, antes de demonstrares suficientemente ou ensinares se isso é assim ou diferente? Pensas que é empresa fácil definir a regra de vida que cada um de nós deve seguir para viver da maneira mais proveitosa?

— Acaso penso — disse Trasímaco — que é de outro modo?

— Assim parece —repliquei. — Ou então não te preocupas connosco e não te importa que levemos uma vida pior ou melhor, na ignorância do que tu pretendes saber. Mas, meu caro, dá-te ao incómodo de nos instruir também: não farás um mau investimento se nos fizeres teus devedores, numerosos como somos. Com efeito, se queres saber o que penso, não estou convencido e não creio que a injustiça seja mais proveitosa do que a justiça, mesmo quando se tem a liberdade de a cometer e não se é impedido de fazer o que se quer. Que um homem, meu caro, seja injusto e tenha o poder de praticar a injustiça por fraude ou à viva força: nem por isso estou persuadido de que tire dai mais proveito que da justiça. Talvez seja também o sentir de outros de nós, e não apenas o meu; persuade-nos, portanto, homem divino, de maneira satisfatória, de que fazemos mal em preferir a justiça à injustiça.

—E como te hei-de persuadir, se não o consegui com o que disse? Que mais posso fazer? Será necessário que pegue nos meus argumentos e tos enterre na cabeça?

— Por Zeus, basta! — gritei. — Mas, em primeiro lugar, mantém-te nas posições tomadas, ou, se mudares, fá-lo com clareza e não nos enganes. Vês agora, Trasímaco — para voltar ao que dissemos —, que, depois de teres dado a definição do verdadeiro médico, não achaste que devias revelar rigorosamente a do verdadeiro pastor. Pensas que, como pastor, ele engorda os seus carneiros não com vista ao seu maior bem, mas, como um glutão que pretende dar um festim, com vista à boa carne ou, como um comerciante, com vista à venda, e não como um pastor. Mas a arte do pastor unicamente se propõe prover ao maior bem do indivíduo a que se aplica—visto que ele próprio está suficientemente provido das qualidades que asseguram a sua excelência, enquanto se mantém conforme à sua natureza de arte pastoril. Pelo mesmo motivo, julgava há pouco que éramos obrigados a reconhecer que todo o Governo, enquanto Governo, se propõe belicamente o maior bem do indivíduo que governa e de que é responsável, quer se trate de uma cidade ou de um particular. Mas tu achas que os chefes das cidades, os que governam realmente, o fazem de bom grado?

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Capa do livro A República
Páginas: 290
Página atual: 27

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 45
Capítulo 3 71
Capítulo 4 102
Capítulo 5 129
Capítulo 6 161
Capítulo 7 189
Capítulo 8 216
Capítulo 9 243
Capítulo 10 265