A República - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 42 / 290

—Portanto, têm também uma virtude?

— Têm uma virtude.

— Muito bem! As orelhas, dissemos nós, têm uma função?

— Têm.

— E, portanto, também uma virtude?

— Também uma virtude.

— Mas não é o mesmo a propósito de todas as coisas?

— É o mesmo.

— Pois bem! Poderiam os olhos desempenhar bem a sua função se não tivessem a virtude que lhes é própria ou se, em vez dessa virtude, tivessem o vício contrário?

— Como o poderiam? Queres provavelmente dizer a cegueira, em vez da vista?

— Qual é a sua virtude, pouco importa; ainda não to perguntei, mas apenas se cada coisa se desempenha bem da sua função por virtude própria e mal pelo vicio contrário.

— É como dizes — confessou.

— Sendo assim, os ouvidos, privados da sua virtude própria, desempenharão mal a sua função?

— Sem dúvida.

— Este princípio aplica-se a todas as outras coisas?

— Creio que sim.





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