A República - Cap. 2: Capítulo 2 Pág. 58 / 290

- Portanto, terá necessidade de outras pessoas que, de outra cidade, lhe trarão o que lhe falta. - Sim, terá necessidade.

- Mas, se essas pessoas se apresentarem com as mãos vazias, não trazendo nada daquilo de que os fornecedores precisam, também partirão com as mãos vazias, não é?

- É o que parece.

- Portanto, é preciso que a nossa cidade produza não só o que necessita, mas também o que, em certa quantidade, lhe é exigido pelos fornecedores.

- Efectivamente, é preciso.

- Consequentemente, terá necessidade de um maior número de agricultores e outros artesãos. - Certamente.

- E também de agentes que se encarreguem da importação e da exportação das diversas mercadorias. Ora, estes são comerciantes, não é?

- É.

- Portanto, também teremos necessidade de comerciantes.

- Com certeza.

- É, se o comércio se fizer por mar, ainda precisaremos de uma quantidade de gente versada na navegação.

- Sim, uma quantidade de gente.

- Mas como! Na própria cidade, como permutarão os homens os produtos do seu trabalho? Com efeito, foi para isso que os associámos ao fundarmos uma cidade.

- É evidente - disse ele - que será por venda e por compra.

- De onde a necessidade de termos uma ágora e moeda, símbolo do valor dos objectos permutados. - Sem dúvida.

- Mas, se o agricultor ou qualquer outro artesão que leva à ágora um dos seus produtos não for aí ao mesmo tempo que os que querem fazer permutas com ele, não deixará o seu trabalho interrompido para ficar sentado na ágora?

- De maneira nenhuma - respondeu. - Há pessoas que, vendo isso, se encarregam desse serviço; nas cidades bem organizadas, são geralmente as pessoas mais fracas de saúde, incapazes de qualquer outro trabalho. O seu papel é ficar na ágora, comprar contra dinheiro àqueles que desejam vender e vender, também contra dinheiro, àqueles que desejam comprar.

- Portanto - continuei -, esta necessidade dá origem à classe dos mercadores na nossa cidade; damos este nome - não é verdade? - aos que se consagram à compra e à venda, com estabelecimento aberto na ágora, e o de negociantes aos que viajam de cidade em cidade.

- Perfeitamente.

- Há ainda, julgo eu, outras pessoas que prestam serviços: os que, pouco dignos, pelo seu espírito, de fazer parte da comunidade, são, pelo seu vigor corporal, aptos para os trabalhos pesados; vendem o emprego da sua força e, como chamam salário ao preço do seu trabalho, dá-se-lhes o nome de assalariados, não é assim?





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