Contos de Mistério - Cap. 5: A NOVA CATACUMBA
(The new catacomb) Pág. 116 / 167

Olhe, vá lá ao fundo observar aquele.

Kennedy atravessou a sala e contemplou a cabeça coberta por uma mina esfarrapada e esburacada pelo bolor.

- É deveras interessante - disse. E a sua voz ecoou estranhamente debaixo daquela abóboda imensa. - Tanto quanto posso avaliar, trata-se de uma peça única. Traga a lanterna, Burger, porque gostava de vê-los a todos.

Mas o alemão tinha-se já afastado e conservava-se de pé no círculo de luz projectado pela lanterna no outro extremo da sala.

- Sabe quantos desvios perigosos existem entre esta sala e a escada do nosso estábulo? - perguntou. - Há mais de dois mil. Era, sem dúvida um dos meios adoptados pelos cristãos para se protegerem das incursões da autoridade pagã. Um homem disporia, pois, se possuísse uma luz, de uma hipótese contra mil de reencontrar o seu caminho, e se se achasse na escuridão, pode considerar-se que não teria praticamente nenhuma.

- É também a minha opinião.

- A obscuridade é aqui algo de pavoroso; falo-lhe por experiência própria, porque tentei uma vez para me certificar. Quer fazer a experiência?

Baixou-se para a lanterna e no mesmo instante pareceu a Kennedy que uma mão invisível se lhe tinha pousado nos olhos. Nunca se encontrara numa obscuridade assim; parecia oprimi-lo, sufocá-lo. Era como um obstáculo intransponível, impedindo o corpo de avançar. Estendeu as mãos para a frente, como para derrubar um obstáculo.

- Já chega, Burger - disse. - Torne a dar luz.

O companheiro respondeu-lhe com uma gargalhada, e naquela sala circular dir-se-ia que milhares de vozes lhe respondiam.

- Está com um ar muito inquieto, amigo Kennedy - disse ele.

- Vamos, vamos, acenda outra vez a lanterna - disse este cheio de impaciência.

- É estranho, Kennedy, mas o som da sua voz não consegue indicar-me a direcção na qual se encontra.





Os capítulos deste livro