Contos de Mistério - Cap. 6: BRINCANDO COM O FOGO
(Playing with the fire) Pág. 121 / 167

A sua prudência contrariava Moir, tal como a fé robusta deste divertia Deacon; mas a seu modo ambos eram fanáticos.

E eu? Como me definiria? Não era um devoto. Não era o crítico científico. Digamos que era o citadino diletante, encantado por me encontrar na corrente da moda, reconhecido a qualquer nova sensação que me arrancava a mim próprio e me abria caminhos novos na vida. Não sou pessoalmente um entusiasta, mas gosto de conviver com entusiastas. As afirmações de Moir davam-me a impressão de que possuíamos uma gazua especial para abrir a porta da morte e enchiam-me de uma espécie de satisfação. Achava muito agradável a atmosfera apaziguadora da sessão com as luzes veladas. Numa palavra, a coisa divertia-me; por isso estava ali, nesse 14 de Abril, presente na cena muito estranha que vou agora contar.

Fui o primeiro homem a chegar, mas Mrs. Delamere já se encontrava no estúdio de Deacon, porque tinha tomado chá com Mrs. Harvey Deacon. As duas senhoras e Harvey Deacon estavam em frente de um quadro inacabado posto no cavalete. Não sou um perito em pintura, e nunca pretendi compreender o sentido dos quadros de Deacon; contudo, neste caso preciso, vi que era muito bonito, muito fantástico, cheio de fadas, de animais e de figuras alegóricas de todos os géneros. As senhoras elogiavam-no imenso; o efeito da cor era deveras muito notável.

- Que lhe parece, Markham? - perguntou-me ele.

- Isto ultrapassa-me! - respondi. - Estes animais... O que são?

- Monstros míticos, criaturas imaginárias, emblemas heráldicos. Uma espécie de procissão bizarra, misteriosa.

- Com um cavalo branco à cabeça!

- Não é um cavalo!

Protestou num tom severo, que me espantou porque possuía excelente carácter e não se levava muito a sério.





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