Contos de Mistério - Cap. 6: BRINCANDO COM O FOGO
(Playing with the fire) Pág. 122 / 167

- O que é então?

- Não está a ver o corno na testa? É um licorne. Tinha-lhe dito que eram animais heráldicos. Não seria capaz de reconhecer um só?

- Lamento muito, Deacon...

Parecia vivamente contrariado, mas pôs-se a rir.

- Desculpe-me, Markham! - disse-me. - O caso é que tive um trabalho doido com este animal. Passei o dia todo a pintá-lo e a repintá-lo, tentando imaginar com o que se pareceria um verdadeiro licorne vivo. Finalmente consegui, creio.

Pelo menos, esperava-o, mas quando você não o reconheceu, senti-me muitíssimo irritado.

- Evidentemente é um licorne! - exclamei com convicção tão irritado o via com a minha cegueira. - Distingo muito bem o licorne, mas nunca vira um licorne, excepto ao lado do brasão real, e não pensava neste animal. Os outros são grifos, basiliscos e dragões de todos os géneros, não é verdade?

- Sim, com eles não tive nenhuma dificuldade; foi o licorne que me criou problemas. Em suma, já chega até amanhã.

Virou o quadro no cavalete e encetámos outro tema de conversa.

Moir estava atrasado nessa noite; tivemos a surpresa de vê-lo chegar na companhia de um francês baixo e robusto, que nos apresentou com o nome de Mr. Paul Le Duc. Disse que ficámos espantados, porque sustentávamos a tese de que uma intrusão no nosso círculo de espíritas modificaria as condições e introduziria um elemento suspeito. Sabíamos que podíamos confiar uns nos outros, mas todos os nossos resultados arriscavam-se a ser postos em causa com a presença de alguém do exterior. Moir, porém, depressa nos tranquilizou. Mr. Paul Le Duc era um célebre adepto do ocultismo, um vidente, um médium e um místico. Viajava em Inglaterra, munido de uma carta de apresentação para Moir do presidente dos Irmãos Parisienses da Rosa-Cruz.





Os capítulos deste livro