Contos de Mistério - Cap. 6: BRINCANDO COM O FOGO
(Playing with the fire) Pág. 125 / 167

Todos estávamos muito mais sérios do que alguma outra vez.

- Importam-se de colocar as mãos à vossa frente? Não temos nenhuma hipótese de tocar-nos, pois somos pouco numerosos à volta de uma mesa desta dimensão. Pode preparar-se, minha senhora; se o sono a invadir não resista. E agora permaneçamos sentados em silêncio e aguardemos, hem?

Instalámo-nos, portanto, em silêncio e aguardámos, interrogando a obscuridade à nossa frente. No corredor, um relógio fazia tiquetaque. Ao longe um cão ladrava intermitentemente. Por duas ou três vezes fiacres rodaram aos solavancos na rua, e os clarões das suas lanternas, passando pelas gretas das cortinas, constituíram agradáveis intermédios na nossa vigília nocturna. Eu sentia os sintomas físicos com que me tinham familiarizado as sessões precedentes: os pés gelados, as mãos cheias de formigueiros, a sensação de um calor suave nas palmas e de um vento frio nas costas, estranhos pequenos arrepios nos antebraços (e especialmente no antebraço esquerdo, que era o mais próximo do nosso visitante) devidos sem dúvida a uma desordem do sistema vascular, mas apesar disso dignos d~ serem notados. Ao mesmo tempo experimentava um sentimento tenso de espera ansiosa, quase dolorosa. A julgar pelo silêncio rígido e absoluto dos meus companheiros, eles tinham os nervos tão tensos como eu.

E depois, de súbito, um som surgiu da escuridão: um som sibilante, grave; era a respiração rápida e leve de uma mulher, cada vez mais rápida, cada vez mais leve, como se passasse entre dentes crispados; e depois ouvimos um soluço muito violento, acompanhado por um roçagar de tecido.

- O que é? É normal? - perguntou alguém no escuro.

- Perfeitamente normal - respondeu o francês. - Foi a senhora. Entrou em transe.





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