Agora, meus senhores, se não se importarem de aguardar serenamente, verão uma coisa, creio, que lhes interessará grandemente.
Continuava o tiquetaque no corredor. Continuava a respiração, mas mais profunda, mais cheia agora, do médium. Continuavam os clarões, melhor acolhidos do que nunca, das lanternas dos fiacres, Que abismo estávamos em vias de preencher? De um lado o véu do eterno semilevantado, do outro as viaturas de Londres. A mesa vibrava com uma pulsação forte. Oscilava regularmente, em cadência, soerguia-se, voltava a cair levemente debaixo dos nossos dedos. Pequenos estalidos, pancadas secas faziam-se ouvir na sua madeira: dir-se-ia um feixe crepitanre numa chaminé em noite de inverno.
- Há muito poder! - murmurou o francês. - Olhem para a mesa!
Julgava-me o joguete de uma alucinação pessoal, mas todos viam a mesma coisa que eu. Um clarão fosforescente amarelo-esverdeado (seria melhor se eu dissesse um vapor luminoso em vez de um clarão) repousava na superfície da mesa. Rebolava, ondulava, contorcia-se em pregas cintilantes e imprecisas que giravam e volteavam como nuvens de fumo. A esta luz impressionante, podia ver as mãos brancas e os dedos quadrados do francês.
- Esplêndido! - exclamou ele. - Como é divertido!
- Solicitaremos o alfabeto? - perguntou Moir.
- Claro que não! Podemos obter muito melhor! - respondeu o nosso visitante. - Não passa de uma infantilidade fazer oscilar a mesa para cada letra do alfabeto; com um médium como a senhora deveríamos fazer mais!
- Sim, o senhor fará mais - declarou uma voz.
- Quem falou? Foi o senhor, Markham?
- Não, eu não falei.
- Mas não era a sua voz.
- Foi a senhora, Miss Delamere?
- Não foi o médium, mas é o poder utilizado pelo órgão do médium - respondeu a voz grave desconhecida.