Contos de Mistério - Cap. 1: O ANEL DE THOTH Pág. 14 / 167

Via-o a trabalhar todos os dias no meio dos seus frasquinhos e do seu alambique, no templo de Thoth, mas falava pouco do resultado dos seus labores. Quanto a mim, passeava-me orgulhosamente na cidade e nos arredores, ufano de pensar que tudo desapareceria e que apenas eu sobreviveria; aliás todos se inclinavam respeitosamente à minha passagem, porque a fama das minhas descobertas alcançara alguma expansão.

«A guerra encontrava-se no auge nesta época e o grande Rei tinha enviado os seus soldados para a fronteira a fim de rechaçarem os Hyksos; um governador real partiu para Abaris. Eu tinha ouvido elogiar a beleza da filha do governador; ora, um dia, quando me passeava com Parmes, encontrámos a jovem transportada pelas suas escravas. Apaixonei-me imediatamente; atingido pelo amor, deixei de ser senhor do meu coração. Estive prestes a lançar-me aos pés das suas carregadoras. Tornara-se para mim o ídolo longe do qual a vida parece insuportável. Jurei por Hórus que seria minha; jurei-o na presença do sacerdote de Thoth. Este último afastou-se de mim com um rosto carregado de nuvens. É inútil falar-lhe no nosso noivado. Ela amou-me como eu a amava. Soube que Parmes a amara antes de mim e que lhe tinha confessado a sua paixão; mas tal amor não me inspirava nenhuns ciúmes, porque sabia que o coração da jovem me pertencia.

«A peste fazia devastações terríveis na cidade, mas eu tratei dos doentes sem nenhuma apreensão. Ela admirou a minha audácia. Então revelei-lhe o meu segredo e supliquei-lhe que me deixasse experimentar na sua pessoa o meu artifício.

«- A tua beleza não murchará, Atma - disse-lhe. Tudo passará neste mundo, mas tu e eu, unidos no nosso grande amor, sobreviveremos ao túmulo do rei Chefree.

«Mas ela, aquela tímida donzela, fez-me uma quantidade de objecções:

«- Isso é permitido? - perguntou-me.





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