«De todas as questões que me cativavam, nenhuma exerceu em mim uma mais vigorosa atracção do que o segredo dos mistérios da existência. Estudei com ardor os princípios vitais. Como o objectivo da medicina era combater o mal logo na sua aparição, pareceu-me que devíamos poder encontrar o meio de fortificar o corpo, suprimindo assim para sempre a debilitação e até a morte. Torna-se inútil, não é verdade, fazê-lo seguir o fio dos meus estudos? Aliás, sem dúvida que não compreenderia. Realizei em animais, em escravos e em mim próprio experiências cujo relato seria fastidioso; que lhe baste saber que estas experiências me forneceram uma substância especial que, injectada no sangue, dava ao corpo a força necessária para resistir tanto aos ataques do tempo como da doença. Claro que não conferia a imortalidade, mas a sua acção devia durar vários milhares de anos. Experimentei-a num gato ao qual administrei em seguida os venenos mais violentos: este gato ainda vive no Baixo Egipto. Não existe nada de misterioso nem de mágico na minha descoberta; é uma simples composição química cuja fórmula pode ser encontrada um dia destes.
«O amor da vida é forte no coração da juventude. Parecia-me ter vencido todas as dificuldades humanas ao abolir o sofrimento e ao afastar o prazo fatal da morte. Por isso foi com uma alegria indescritível que injectei a substância benfazeja nas minhas veias; procurei depois em meu redor quem poderia fazer beneficiar da minha descoberta. Pensei num jovem sacerdote de Thoth, chamado Parmes, que soubera ganhar as minhas boas graças devido ao seu ar sério e ao seu amor pelo trabalho; murmurei-lhe o meu segredo ao ouvido, e a seu pedido infiltrei-lhe no sangue o meu elixir: a partir deste momento, eu já não devia ser o único da minha geração; teria, portanto, nesta terra um companheiro da mesma idade!
«Após a minha grande descoberta, afrouxei um pouco os meus estudos, mas Parmes prosseguiu-os com o mesmo ardor.
