Contos de Mistério - Cap. 7: O BOIÃO DE CAVIAR
(The pot of caviare) Pág. 141 / 167

- Tem razão, mil vezes razão. Mas supõe que eu não tenha pensado nisso? Pessoalmente, saberia morrer em combate. Tal como Ralston. Tal como Ainslie. Dei-lhes uma palavrinha: assunto arrumado. Quanto aos outros... conversei com eles. Mas que fazer? Há o padre e o missionário escocês, e as mulheres.

- Deixar-se-iam apanhar vivos?

- Recusar-se-iam aos meios de evitá-lo. Não atentariam contra a própria vida. Questão de consciência. Claro que o perigo já não existe, nada nos autoriza a encarar uma eventualidade tão terrível. Mas enfim, no meu lugar, sendo caso disso, que faria?

- Mataria toda a gente.

- Mein Gott! Assassinar estas pessoas!

- Matá-las-ia, por piedade por elas próprias! Passei por isso, caro senhor. Vi o suplício dos ovos escalfados; vi o suplício da água a ferver; vi as mulheres... Meu Deus!, pergunto a mim mesmo como pude recuperar o sono!

O pavor da lembrança torturava aquele rosto habitualmente impassível.

- Tinham-me amarrado a um poste, com picos debaixo das pálpebras para me obrigarem a mantê-las abertas; e o que sofria custava-me menos do que as censuras que me dirigia do fundo de mim próprio, pensando que com algumas tabletes insípidas teria podido, no último minuto, arrancar as vítimas aos torcionários! Um assassínio? Estou pronto a comparecer perante a justiça divina para aí responder por mil assassínios idênticos! Um pecado? Não, mas um desses actos capazes de apagar da alma a sujidade do verdadeiro pecado! Se, sabendo o que sei, tivesse deixado de agir em conformidade, não existiria inferno suficientemente profundo para receber a minha alma culpada e cobarde!

O coronel pôs-se de pé e a sua mão apertou de novo a mão do professor.

- O senhor fala com bom senso - disse ele.





Os capítulos deste livro