- Vi na minha vida variações da sorte muito estranhas; e não me entristeço nem me regozijo, doravante, a não ser com conhecimento de causa. Conte-me as novidades.
- Ora bem - disse o coronel, acendendo o cachimbo e estendendo sobre uma cadeira de bambu as pernas envoltas em polainas -, juro, pela minha reputação militar, que tudo vai bem. Os nossos fazem progressos rápidos; a cessação do fogo assinala o fim da resistência. Dentro de uma hora estaremos a vê-los no cimo destes cabeços. Ainslie, com três disparos, advertir-nos-á do alto do campanário. Faremos então uma pequena sortida para nossa satisfação pessoal.
- E aguarda o sinal?
- Aguardo. E tive a ideia de, até lá, vir fazer-lhe companhia, porque queria perguntar-lhe uma coisa.
- Então o quê?
- Falava-nos há pouco do outro cerco... o cerco de Sung-Tung. Existe nisso, do ponto de vista profissional, uma questão que me interessa. Agora que os civis e as senhoras nos desembaraçaram da sua presença, espero que possamos falar do assunto sem inconveniente...
- O assunto não tem nada de agradável.
- Concordo sem dificuldade. Mein Gott! Foi um drama.
Mas o senhor viu a forma como conduzi aqui a defesa. Acha que foi prudente? E hábil? E digna das tradições do exército alemão?
- Penso que não teria podido fazer mais.
- Obrigado. Mas julga que defenderam tão bem a outra praça? Uma comparação deste género oferece para mim o interesse mais vivo. Acredita que pudessem salvá-la?
- Não. Tudo quanto era possível foi feito... excepto, todavia, uma coisa.
- Ah, houve uma omissão? Qual?
- Ninguém deveria cair vivo nas mãos dos chineses.
O coronel estendeu a imensa mão vermelha, com a qual envolveu os dedos azuis e nervosos do professor.