Contos de Mistério - Cap. 7: O BOIÃO DE CAVIAR
(The pot of caviare) Pág. 149 / 167

.. Não teria sofrido nem no espírito nem no corpo. Era cianuro... Tinha-o posto no caviar... Mas a menina recusou...

- Deus do Céu!

Um sobressalto tinha-a projectado para trás, de pupilas dilatadas.

- Ah, monstro! Monstro! Envenenou-os!

- Salvei-os! Não conhece estes chineses. São atrozes. Dentro de uma hora, caíamos todos nas mãos deles. Tome isto, minha menina...

Enquanto falava, uma brusca fuzilaria rebentou mesmo debaixo das janelas do quarto.

- Ouça: aqui -estão eles! Depressa, minha menina, rápido! Ainda pode escapar-lhes!

As suas palavras apenas impressionavam orelhas moucas: a jovem tinha caído inanimada na cadeira. Erecto, o velhote escutou um instante o barulho do fogo no exterior. Mas como era? Que vinha a ser aquilo? Tinha enlouquecido? Sofria o efeito do tóxico? Eram seguramente aclamações europeias? Sim... Ordens breves ecoavam em inglês. Ouviu o grito dos marinheiros. Já não podia duvidar. O socorro chegara enfim, graças a um milagre. Estendeu os compridos braços com desespero.

- Que fiz eu? Ah, que fiz eu, Senhor! - exclamou.

Foi o comodoro Wyndham em pessoa que, depois de um ataque nocturno desesperado e vitorioso, entrou em primeiro lugar na terrível casa de jantar. Um grupo de convivas estava alinhado, lívido e mudo, à volta da mesa. Uma jovem gemia e agitava-se debilmente: mais nenhum sinal de vida na sala. Contudo, havia ali alguém em que ainda restava energia suficiente para o cumprimento de um dever supremo. Paralisado de espanto no limiar da porta, o comodoro viu erguer-se lentamente acima da mesa uma cabeça grisalha, e a comprida pessoa do professor oscilar um instante nas pernas.

- Tenha cuidado com o caviar! Não toque no caviar! - disse num estertor o velho entomologista.





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