Contos de Mistério - Cap. 8: O ESPELHO DE PRATA
(The silver mirror) Pág. 155 / 167

Está tudo bem. O meu trabalho progride.

Malha a malha, teço a rede à volta do meu homem. Mas ele seria o último a rir se os meus nervos viessem a ceder. O espelho causa-me o efeito de um barómetro marcando em minha casa a pressão cerebral. Reparei que se velava todas as noites antes de ter enchido a medida de trabalho que me impus.

O Dr. Sinclair, que não tem lá muito ar de psiquiatra, encontrou um interesse tão vivo na minha história que quis, de imediato, vir deitar uma vista de olhos ao espelho. Tinha notado que havia, nas costas da moldura de prata, uma inscrição, algumas palavras de uma velha escrita quase indecifrável. Examinou a inscrição à lupa, mas sem chegar a qualquer conclusão. "Sanc. X. Pal." foi tudo o que, ao fim e ao cabo, conseguiu ler. Aconselhou-me a transportar o espelho para outro quarto. Aliás, fosse o que fosse que eu pudesse ver, tudo se resume, para ele, a um fenómeno sintomático, apenas perigoso no seu princípio. O que eu deveria pôr de lado, não era o espelho de prata, mas, se pudesse, os vinte livros de registos. Estou no oitavo. Avanço.

13 de Janeiro. Em suma, talvez devesse ter afastado o espelho. Sucedeu-me esta noite algo de extraordinário, um facto tão curioso e tão misterioso que entendo consigná-lo já de seguida. O que quer isto dizer?

Era, suponho, perto da uma da manhã. Tinha fechado os meus livros e, estoirado de fadiga, dispunha-me a ir para a cama quando, à minha frente, avistei a mulher. Eu tinha, sem dúvida, deixado passar sem dar por isso o período do nevoeiro e da evolução. A mulher, portanto, estava ali, bela de paixão e de angústia, e recortando-se como se fosse de carne. A imagem, embora pequena, tinha uma tal nitidez que cada feição do rosto, cada pormenor do vestuário me ficaram gravados na memória.





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