Contos de Mistério - Cap. 9: COMO TUDO ACONTECEU (How it happened) Pág. 165 / 167

Pousou as mãos no volante.

- Vou aguentar o carro - propôs-me -, se quiser saltar. Não sairemos vivos desta viragem. Seria melhor saltar, senhor!

- Não - respondi-lhe. - Fico. Se você quiser, Perkins, salte.

- Fico com o senhor.

Se fosse a velha viatura, eu teria encravado a alavanca das velocidades na marcha atrás, e logo se veria o que sucederia. Com a nova a esperança era nenhuma. As rodas roncavam como um vento forte; a carroçaria estalava e gemia; mas os faróis iluminavam bem, e eu podia conduzir com precisão. Lembro-me de ter imaginado a visão terrível e, no entanto, majestosa que representaríamos para alguém que viesse em sentido contrário. A estrada era estreita; o infeliz que quisesse cruzar-se connosco teria perecido de uma morte horrenda.

Encetámos a curva com uma roda um metro acima do talude. Julguei que nos fôssemos virar mas, depois de ter oscilado um instante, a viatura reencontrou o aprumo e retomou a corrida. Tinha transposto a terceira viragem, a derradeira. Só restava agora o gradeamento do parque. Estava à nossa frente mas, por azar, não directamente. Encontrava-se a cerca de vinte metros para a esquerda no topo da estrada. Talvez eu pudesse conseguir, mas creio que a caixa de velocidades fora atingida quando rolávamos por cima do talude. O volante mal me obedeceu. Vi à esquerda o gradeamente aberto. Apontei com toda a força dos meus punhos. Perkins e eu quase nos deitámos de viés. No segundo que se seguiu, rolando a oitenta quilómetros à hora, a roda direita embateu no pilar do gradeamento. Ouvi o choque. Senti que voava no ar, e depois... E depois...

Quando recuperei a consciência encontrava-me no meio do mato, à sombra dos carvalhos da alameda, do lado da casinha do guarda. Um homem estava de pé ao meu lado.





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