Julguei que fosse Perkins; mas, ao fitá-lo atentamente, reconheci Stanley, um antigo camarada de liceu pelo qual sentia uma verdadeira afeição. A personalidade de Stanley despertava sempre em mim uma viva simpatia, e sentia-me orgulhoso de pensar que existia reciprocidade. Apesar disso fiquei assaz surpreendido por vê-lo ali; mas sentia-me como um homem que sonha, atordoado, alquebrado, perfeitamente disposto a aceitar sem discutir as coisas como elas eram.
- Que acidente! - disse eu. - Meu Deus, que desastre! Ele fez um sinal afirmativo com a cabeça; nas trevas, reencontrei o seu sorriso simpático, inteligente.
Estava completamente incapaz de mexer-me. Na realidade não sentia nenhuma vontade de tentá-lo. Em contrapartida, os meus sentidos estavam particularmente despertos. Vi os destroços da minha viatura iluminados por lanternas que se agitavam. Vi um pequeno grupo de pessoas e ouvi vozes abafadas. Havia o guarda e a mulher, mais alguns outros. Não se ocupavam de mim, mas afadigavam-se em redor da viatura. De súbito ouvi um grito de sofrimento.
- O peso esmaga-o. Levantem o carro devagar! - gritou uma voz.
- É apenas a minha perna - gemeu uma outra voz que identifiquei como sendo a de Perkins. - Onde está o patrão?
- Estou aqui! - respondi.
Mas ninguém pareceu ouvir-me. Todos se debruçavam por cima de qualquer coisa que jazia na viatura.
Stanley pousou uma das mãos no meu ombro, e este contacto tranquilizou-me infinitamente. Sentia-me leve e feliz, apesar de tudo.
- Naturalmente não sofre? - perguntou-me ele.
- Absolutamente nada.
- Nunca se sofre.
Então subitamente a estupefacção invadiu-me. Stanley!
Stanley! Mas vejamos, Stanley tinha perecido de febre tifóide na guerra dos Boers!
- Stanley! - gritei com voz embargada.