Contos de Mistério - Cap. 2: O LOTE N° 249
(The lot n. 249) Pág. 34 / 167

É uma múmia particularmente bela, Smith!

Smith aproximou-se da mesa e fitou com um olhar profissional a forma negra e torcida. O rosto, embora horrivelmente descolorido, era perfeito; dois pequenos globos ainda se achavam alapardados no côncavo das órbitas escuras. O queixo marmóreo estava esticado de um osso para o outro e cabelos espessos e pretos caíam-lhe em cima das orelhas. Dois dentes delgados como os de uma ratazana cobriam-lhe o lábio inferior engelhado. Na sua posição acocorada, com as articulações curvadas e a cabeça esticada para a frente, aquela coisa horrível

ARTHUR CONAN DOYLE

CONTOS DE MISTÉRIO

47

dava uma impressão de energia que causou vómitos a Smith. As costelas descarnadas, forradas por um invólucro apergaminhado, estavam nitidamente salientes, tal como o abdómen cor de chumbo, fendido ao comprido pelo embalsamado r; mas os membros inferiores achavam-se ainda rodeados por ligaduras amarelas. Como cravos-da-Índia, pedaços de mirra e de cassia estavam espalhados sobre o corpo ou dispersos no interior da caixa.

- Ignoro o seu nome - disse Bellingham, enquanto passeava a mão pela testa engelhada. - Como vêem falta-me o sarcófago exterior com as inscrições. Lote n." 249, eis qual é hoje o seu único título. Leiam-no na caixa. É o número que trazia para o leilão onde o comprei.

- Na sua época foi certamente um belo homem declarou Abercrombie Smith.

- Um gigante. A sua múmia mede dois metros de comprimento; na sua terra devia passar por um gigante, porque a raça não era muito desenvolvida. Apalpem estes grandes ossos nodosos, também. Não devia dar jeito nenhum implicar com ele.

- Talvez estas mãos tenham contribuído para erigir pirâmides? - sugeriu Monkhouse Lee que as fitava com repulsa.





Os capítulos deste livro