- Não pense nisso! Este rapagão foi aro matizado com natrão e cuidadosamente embalsamado ao melhor estilo. Não tratavam assim tão bem os aprendizes de pedreiros. Sal ou alcatrão teria sido mais do que bom. Calcula-se que esta espécie de bagatela custava cerca de setecentas e trinta libras na nossa moeda. O nosso amigo era pelo menos um nobre. Que pensa desta inscrição perto dos seus pés, Smith?
- Já lhe disse que não conhecia nenhuma língua oriental.
- Ah, sim! É o nome do embalsamador. Pelo menos, é o que suponho. Deve ter sido um artesão muito consciencioso. Pergunto-me quantas obras de arte modernas sobreviverão quatro mil anos...
Continuou a falar com desprendimento, mas Abercrombie Smith apercebeu-se de que ainda tiritava de medo. As mãos tinham gestos bruscos, o lábio inferior tremia e os olhos dirigiam-se constantemente para o seu repugnante companheiro. Apesar do pavor, porém, havia triunfo na sua voz e na sua atitude. O olhar brilhava-lhe, os passos eram vivos e desenvoltos quando percorria a sala. Dir-se-ia um homem que passara por uma rude provação, que ainda guardava vestígios disso, mas que tinha alcançado os seus fins.
- Não vai partir? - exclamou quando Smith se levantou do canapé.
Perante a perspectiva da solidão, os seus pavores pareceram invadi-lo novamente e estendeu o braço como para retê-lo.
- Sim, devo retirar-me. O meu trabalho está à espera.
Recuperou muito bem. Penso que, atendendo ao seu estado nervoso, deveria entregar-se a estudos menos mórbidos.
- Oh, geralmente nunca me enervo! E já desenfaixei muitas múmias.
- Da última vez, também desmaiou - observou Monkhouse Lee.
- Olha, pois foi! Ora bem, terei de tomar um tónico para os nervos. Você não parte, Lee?
- Farei como quiser, Ned.