Contos de Mistério - Cap. 2: O LOTE N° 249
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No dia seguinte àquele em que tivera a sua conversa com Monkhouse Lee, Smith fechou os seus livros às oito e um quarto; era a hora a que partia habitualmente para se dirigir a casa do amigo. Quando ia deixar o quarto, reparou por acaso num dos livros que Bellingham lhe tinha emprestado, e sentiu remorsos por não lho ter devolvido. Por repugnante que o homem fosse, não merecia uma falta de cortesia. Pegou no livro, desceu a escada e bateu à porta do vizinho. Não obteve resposta. Girou a maçaneta e verificou que a porta não se achava fechada à chave. Encantado com a perspectiva de escapar a uma conversa, deslizou para o interior e colocou em evidência na mesa o livro com o seu cartão de visita.

A chama do candeeiro estava baixa, mas Smith pôde ver muito nitidamente os pormenores da sala. Não tinha mudado: o friso, as cabeças de animais, o crocodilo e a mesa carregada de papéis e de folhas secas. A caixa da múmia estava encostada à parede, mas a múmia não se encontrava no interior. Não viu nenhum vestígio de um segundo ocupante na sala, e disse para si mesmo quando partiu que fora provavelmente injusto para com Bellingham. Se este quisesse preservar um segredo culpável, não teria deixado a porta aberta, à discrição do primeiro que aparecesse.

A escada de caracol era negra como a tinta; Smith descia cautelosamente os degraus irregulares, quando se deu conta, de súbito, de que alguém acabava de cruzar-se com ele na escuridão. Apercebera-se de um ruído fraco, uma deslocação de ar, um ligeiro atrito contra o cotovelo, tão ligeiro que se perguntou se não teria sonhado. Parou e escutou, mas o vento sussurrava na hera e foi-lhe impossível ouvir outra coisa.

- É você, Styles! - gritou.

Não obteve resposta: atrás dele tudo estava calmo e silencioso.





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