- Suponha que eu lhe dizia que mais alguém habita no apartamento de Bellingham...
Monkhouse Lee estremeceu sob o efeito de um nervosismo incontrolável.
- Então sabe? - gaguejou.
- Uma mulher?
Lee voltou a afundar-se na cadeira soltando um gemido.
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ARTHUR CONAN DOYLE
CONTOS DE MISTÉRIO
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- Os meus lábios estão selados - disse ele. - Não devo falar.
- Ora bem, de qualquer modo - declarou Smith levantando-se -, é pouco provável que me deixe apavorar ao ponto de largar um apartamento que me convém perfeitamente. Seria da minha parte uma grande fraqueza se fosse mudar todas as minhas coisas sob o pretexto de que você me afirma que Bellingham poderia fazer-me mal de um modo inexplicado. Penso que assumirei os meus riscos e que ficarei onde habito; como vejo que são quase cinco horas, vou pedir-lhe que me desculpe.
Despediu-se do jovem estudante e regressou à sua pequena torre, semiagitado, semidivertido como teria ficado qualquer homem forte e pouco imaginativo ameaçado por um perigo impreciso.
Abercrombie Smith concedia sempre a si próprio uma pequena condescendência, qualquer que fosse a urgência do seu trabalho. Duas vezes por semana, à quarta e à sexta-feira, ia a pé até Farlingford, residência do Dr. Plumptree Peterson situada a dois quilómetros e meio de Oxford. Peterson fora um amigo íntimo do irmão mais velho de Smith, Francis; era solteiro, rico, com uma boa cave e uma biblioteca ainda melhor; a sua casa era um objectivo agradável para os amadores da marcha a pé; duas vezes por semana, o estudante de Medicina metia-se pelos caminhos sombrios do campo e passava uma hora agradável no confortável escritório de Peterson a discorrer, por cima de um copo de Porto, sobre os últimos mexericos da Universidade ou sobre os mais recentes progressos da medicina ou da cirurgia.
