Contos de Mistério - Cap. 3: O SOLAR ASSOMBRADO DE GORESTHORPE
(The haunted grange of Goresthorpe) Pág. 65 / 167

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Santo Deus! O que pode ter andado a fazer durante estas centenas de anos a nobre família a quem o comprei?

Então nenhum dos seus membros teria tido coragem bastante para fugir com a amante ou cometer alguns dos actos necessários para instalar no Solar de Goresthorpe um espectro hereditário?

Ainda hoje sinto que perco a paciência ao escrever estas páginas.

Durante imenso tempo, aguardei sem qualquer esperança.

Por pouco que uma ratazana chiasse atrás de uma parede, que a chuva caísse com grossas gotas no sobrado do sótão, um violento arrepio agitava-me todo o corpo e parecia-me que estava, enfim, na pista de alguma alma penada.

Nestas ocasiões, o pavor nada tinha que ver com o que eu sentia.

Se a coisa acontecia durante a noite, enviava Mrs. d'Odd, que é uma mulher de siso, informar-se, enquanto eu escondia a cabeça debaixo dos lençóis e me abandonava às volúpias da espera.

Infelizmente o resultado era sempre o mesmo. Os ruídos suspeitos desembocavam numa explicação tão grotescamente natural, tão trivial, que a imaginação mais exaltada deixava de ter condições para lhe atribuir a mínima roupagem romanesca.

Teria acabado por resignar-me a tal estado de coisas, não fosse Jorrocks, de Havistock Farm.

Jorrocks é, nem vale a pena dizê-lo, um rapaz grosseiro, papalvo, positivo, cujo conhecimento fiquei a dever a esta circunstância fortuita: as suas terras são vizinhas do meu domínio.

E, no entanto, este homem, embora desprovido de qualquer dom para apreciar as raridades arqueológicas, é possuidor de um espectro absolutamente autêntico, incontestável.

Creio que a sua existência remonta apenas ao reinado de Jorge II, no tempo em que uma jovem dama cortou a garganta quando soube que o amante tinha morri do na batalha de Dettingen.





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