Contos de Mistério - Cap. 3: O SOLAR ASSOMBRADO DE GORESTHORPE
(The haunted grange of Goresthorpe) Pág. 66 / 167

Apesar de tudo, isto confere à casa um ar de respeitabilidade, sobretudo quando o espectro é acompanhado de manchas de sangue no sobrado.

Jorrocks é de natureza assaz espessa e é deveras penoso ouvir os termos com que ele fala da aparição.

Não desconfia dos ciúmes que me faz passar um dos gemidos, um dos queixumes nocturnos que descreve com grande acompanhamento de injúrias. Não se sabe a que ponto chegaremos se os espectros democratas conseguem abandonar a propriedade e suprimem as distinções sociais refugiando-se nas residências dos poderosos que não possuem estatuto social.

Senti que precisava de arranjar a todo o custo um fantasma. Como fazer para consegui-lo? Mesmo com a ajuda de Mrs. d'Odd, era uma tarefa impossível.

As minhas leituras tinham-me ensinado que estes fenómenos são geralmente a consequência de um crime. Mas que crime era preciso cometer; e quem devia encarregar-se disso?

Uma ideia louca ocorreu-me ao espírito: Watkins, o nosso intendente, não podia - a troco de um preço - deixar-se persuadir a imolar-se (ou a imolar alguém) no interesse da casa?

Propus-lhe o negócio num tom meio galhofeiro, mas não pareceu seduzi-lo.

Os outros criados partilharam o seu modo de ver, pelo menos não consigo explicar de outra forma a sua partida em massa na mesma noite.

- Meu querido - chamou-me a atenção Mrs. d'Odd, um dia após o jantar, enquanto eu saboreava melancolicamente o meu copo de sack (aprecio os termos dos bons velhos tempos) -, meu querido, aquele odioso fantasma da casa de Jorrocks voltou a pôr-se a tagarelar.

- Ora bem, que tagarele!

Mrs. d'Odd dedilhou algumas cordas do seu virginal (instrumento de música, percursor do cravo) e contemplou o lume com ar pensativo.





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