Contos de Mistério - Cap. 1: O ANEL DE THOTH Pág. 7 / 167

O estudante, mau grado o seu temperamento calmo, sentiu-se cheio de terror quando observou a cara do homem iluminada pela lanterna. O seu corpo estava envolto em sombra, mas o rosto aparecia estranho, atormentado, angustiado; não havia engano possível; aqueles olhos metálicos, aquela pele cadavérica eram bem os do empregado com quem Vansittart Smith encetara conversa.

O primeiro impulso deste último foi ir ao encontro do indivíduo e dirigir-lhe a palavra. Seguramente algumas explicações teriam resolvido o enigma; em todo o caso, permitir-lhe-iam abrir uma porta e regressar ao hotel.

Mas quando o homem entrou na sala, a sua fisionomia era tão subtil os seus movimentos eram tão furtivos que o inglês alterou a sua resolução. De certeza que não se achava em presença de uma ronda de noite normal. O homem trazia sapatos de feltro, o peito soerguia-se profundamente a cada passo, e olhava ansiosamente para a direita e para a esquerda ao mesmo tempo que a respiração forte fazia vacilar a chama da lanterna. Vansittart Smith encolheu-se mais ainda no seu canto e observou-o atentamente, convencido de que ia assistir a uma cena bizarra, talvez criminosa.

O outro avançava sem hesitação, mas lentamente; indo direito a uma das grandes vitrinas, extraiu uma chave da algibeira e abriu-a, depois tirou uma múmia da sua caixa, levantou-a e depositou-a no chão com terna solicitude; colocou a lanterna ao lado dela, e, sentando-se à maneira oriental, começou, com os dedos esguios e trémulos, a desfazer as faixas que a rodeavam. À medida que estas peças se soltavam uma a uma com ligeiros estalidos, um forte odor aromático encheu a sala ao mesmo tempo que fragmentos de especiarias e de madeiras olorantes caíam no chão.

Ficara claro para John Vansittart Smith que esta múmia nunca fora desenfaixada; por isso a operação interessou-o vivamente.





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