Contos de Mistério - Cap. 3: O SOLAR ASSOMBRADO DE GORESTHORPE
(The haunted grange of Goresthorpe) Pág. 76 / 167

Vai deixar-me aqui sozinho para me entender com eles. À meia-noite e meia entrará e eu tratarei de que fiquem tranquilos.

Pareceu-me que o pedido de Mr. Abrahams era razoável. Deixei-o, pois, ali, os pés no pano da chaminé, a cadeira em frente do lume, e fortificando-se com estimulantes contra os seus visitantes indóceis.

Do quarto situado por baixo, e onde fiquei com Mrs. d'Odd, pude, passado algum tempo, ouvi-lo percorrer o vestíbulo com passos impacientes e rápidos.

Depois, ouvimo-lo experimentar a fechadura da porta, depois empurrar na direcção da janela um móvel que estorvava, para cima do qual subiu, sem dúvida, porque ouvi o estalido dos gonzos enferrujados quando a janela de vidraças talhadas em pontas de diamantes foi aberta para trás.

Sabia que ficava situada a vários centímetros fora do alcance do homenzinho.

Mrs. d'Odd disse que conseguiu, depois, distinguir a sua voz, que falava rapidamente e muito baixinho, mas talvez fosse apenas um efeito da sua imaginação.

Confesso que começara a sentir-me mais impressionado do que julgaria possível.

Havia algo de terrificante no pensamento daquele mortal solitário que, de pé próximo da janela aberta, evocava os espíritos do outro mundo dispersos nas trevas do exterior e os convidava a entrar.

Eu estava com tremuras que não pude ocultar a Mathilda, quando notei que o ponteiro do relógio de parede marcava meia-noite e meia, e que tinha chegado a altura de partilhar a vigília do meu visitante.

Estava sentado no seu primitivo lugar quando entrei, e não restavam quaisquer vestígios das manobras misteriosas que eu ouvira) se bem que a sua cara embonecada estivesse animada como se por recentes esforços físicos.

- Está a andar tudo bem? - perguntei ao entrar e assumindo um ar tão indiferente quanto possível, o que me impediu de deitar uma espreitadela à minha volta para ver se estávamos sozinhos.





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