-Apenas falta a sua ajuda para arrumarmos o assunto - disse Mr. Abrahams com voz solene. - Vai sentar-se ao meu lado e absorver a essência de lucoptolycus, que faz cair as vendas dos nossos olhos terrestres. Seja o que for que veja, não diga nada, não faça nenhum movimento. De outro modo quebrará o encantamento.
Os seus modos eram mais contidos.
As trivialidades londrinas tinham desaparecido por completo da sua linguagem.
Sentei-me na cadeira que me indicou e aguardei o resultado.
O meu companheiro afastou os caniços do sobrado até uma certa distância à nossa volta, e descreveu a giz um semicírculo no qual ficava incluída a lareira e onde nos encontrávamos.
À volta da borda deste semicírculo, desenhou diversos hieróglifos que muito se assemelhavam aos signos do zodíaco.
Depois levantou-se e arengou uma longa invocação, pronunciada com uma tal volubilidade que a teríamos tomado por uma única e gigantesca palavra de uma língua estranha e gutural.
Terminada esta oração, se é que se tratava de uma oração, voltou a tirar da algibeira o frasquinho e despejou numa garrafinha cerca de duas colheres de chá de um líquido claro, transparente, que me passou, convidando-me a bebê-lo.
O líquido tinha um leve odor fugidio e doce, que lembrava muito bem o aroma de certas espécies de maçãs.
Hesitei um momento antes de levá-lo aos lábios mas um gesto impaciente do meu companheiro triunfou dos meus escrúpulos e absorvi-o de um só trago.
O sabor não era desagradável, e como o efeito não fosse instantâneo, encostei-me às costas da cadeira e pus-me na atitude de ver o que ia acontecer.
Mr. Abrahams sentou-se ao meu lado e senti que espiava a minha fisionomia de vez em quando, ao mesmo tempo que repetia outras invocações iguais àquelas que já tinha tagarelado.