Contos de Mistério - Cap. 3: O SOLAR ASSOMBRADO DE GORESTHORPE
(The haunted grange of Goresthorpe) Pág. 78 / 167

Uma sensação deliciosa de calor e de languidez apossou-se gradualmente de todo o meu corpo, quer em consequência do calor do lume, quer por qualquer outra causa.

Uma necessidade invencível de dormir fazia-me descair as pálpebras, embora durante todo este tempo o meu cérebro trabalhasse activamente. Centenas de ideias tão belas como agradáveis esvoaçavam à minha frente.

A letargia que me esmagava era tal que, quando senti a mão do meu companheiro pousar-se na região do meu coração como para se assegurar de que ele ainda batia, nada fiz para impedi-lo e nem sequer lhe perguntei por que agia assim.

Todos os objectos que se encontravam na sala tinham o ar de se movimentarem numa dança circular, adormecedora, da qual eu era o centro.

A grande cabeça de alce que decorava a outra ponta inclinava-se e endireitava-se solenemente, ao passo que nas mesas os maciços gomis executavam cotilhões com os baldes de refrescar o clarete e com o centro de mesa.

A minha cabeça, sucumbindo à sensação de peso, deixou-se pender para o peito, e eu teria caído na inconsciência se não tivesse sido chamado a mim próprio quando vi abrir a porta que ficava na outra extremidade do vestíbulo.

Esta porta levava à plataforma sobrelevada de que falei e que os donos da casa costumavam reservar só para si.

Esta porta girou lentamente nos gonzos. Empertiguei-me bruscamente agarrando-me aos varões e dirigi o olhar espantado para o corredor escuro para onde ele dava.

Estava a chegar por ali um objecto.

Era algo informe, intangível mas, enfim, era qualquer coisa.

Vi o objecto de contornos vagos, confusos, transpor o limiar, ao mesmo tempo que uma corrente de ar de um frio glacial varria a sala, e parecia-me que era atravessado por ela e que ficava gelado até ao coração.





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