Contos de Mistério - Cap. 3: O SOLAR ASSOMBRADO DE GORESTHORPE
(The haunted grange of Goresthorpe) Pág. 79 / 167

Tinha consciência da presença deste ser misterioso. Então ouvi-o falar com uma voz que lembrava o gemido de um vento de leste por entre os pinheiros nas margens de um mar desolado.

Ele disse:

- Sou o nada invisível. Tenho afinidades e sou subtil.

Sou eléctrico, magnético e espírita. Sou o grande soltador de suspiros etéreos. Mato os cães. Mortal, queres escolher-me?

Eu desejei falar, mas dir-se-ia que as palavras se estrangulavam na boca, e antes que tivessem podido sair, a sombra adejou através do vestíbulo e desvaneceu-se nas trevas do exterior, enquanto um suspiro melancólico prolongado enchia a divisão.

Virei novamente os olhos para a porta e, com enorme espanto meu, avistei uma velhinha que percorria a coxear ligeiramente o corredor, antes de entrar no vestíbulo.

Avançou e recuou por diversas vezes, depois, acocorando-se mesmo na borda do círculo, mostrou uma cara cuja horrível expressão de maldade nunca se me apagará da memória.

Parecia-me que todas as paixões impuras tinham deixado vestígios naquela hedionda fisionomia.

- Ah! .Ah! Ah! - exclamou ela, lançando para a frente as garras descarnadas, semelhantes às garras de uma ave. -Estás a ver o que eu sou. Sou a velha dama diabólica. Uso os seus tecidos de seda cor de pulga. Sir Walter apreciava-me muito. Serei para ti, mortal?

Completamente horrorizado, fiz um esforço para agitar a cabeça.

Então ela deu-me uma pancada com a muleta e desapareceu soltando um grito de um timbre fantástico.

Neste momento, o meu olhar tinha-se naturalmente dirigido para a porta aberta e não fiquei demasiadamente surpreendido ao ver entrar um homem de elevado e nobre porte.

O seu rosto tinha uma palidez mortal, mas enquadrado por uma franja de cabelos pretos que lhe caíam em caracóis nas costas.





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