O queixo estava guarnecido por uma barba curta e pontiaguda...
Vestia trajos flutuantes, que pareciam feitos de cetim amarelo, e uma larga concha branca rodeava-lhe o pescoço.
Atravessou a sala com grandes passadas lentas e majestosas, depois, voltando-se para mim, dirigiu-me a palavra com entoação suave e timbre requintado na modulação:
- Sou o cavaleiro, traspasso e sou traspassado. EIS o meu espadagão; faço tilintar a espada. Aqui está uma mancha de sangue no meu coração, posso emitir gemidos abafados. Sou recomendado por numerosas famílias conservadoras. Sou a aparição autêntica da residência senhorial. Trabalho sozinho ou na companhia de donzelas que soltam gritos agudos.
Inclinou a cabeça com cortesia, como se aguardasse a minha resposta, mas a mesma sensação de estrangulamento impediu-me de falar.
Fez uma profunda vénia e desapareceu.
Mal se tinha eclipsado e logo uma sensação de horror intenso se apossou de todo o meu ser; tive a certeza de que se encontrava na sala uma criatura de contornos vagos, de proporções incertas.
Em dado momento, dir-se-ia que ela enchia toda a casa, ao passo que noutro se tornava invisível, mas deixava sempre atrás de si a convicção de que estava presente. Quando falava era com uma voz trémula.
Dizia ela:
- Eu sou aquela que deixa marcas de passos e que semeia aqui e além gotas de sangue. Percorro fazendo muito barulho os corredores. Charles Dickens aludiu a mim. Produzo ruídos estranhos e desagradáveis. Escamoteio as cartas e coloco mãos invisíveis nos pulsos das pessoas. Sou de humor divertido. Atiro para o ar hediondas gargalhadas. Devo atirar uma agora?
Ergui a cabeça com ar suplicante, mas demasiadamente tarde para impedir uma explosão discordante que fez retumbar todos os ecos da sala.