Contos de Mistério - Cap. 4: DE PROFUNDIS
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Nada mais pude saber do meu amigo até reunir-me com ele em Falmouth, Quando regressei ao escritório deparei com um telegrama de Mrs. Vansittart, no qual me pedia que fosse visitá-la. Na noite seguinte estávamos no Royal Hotel, de Falmouth, onde devíamos esperar a chegada do Eastern Star. Decorreram dez dias sem nenhumas notícias do barco.

Não é provável que alguma vez me esqueça daqueles dez dias. Ao mesmo tempo que o Eastern Star saía do Tamisa, rebentou uma tempestade furiosa vinda do Oriente e o vendaval continuou durante a maior parte da semana, sem mostrar sinais de acalmar-se. Na costa do Sul nunca se conhecera uma tormenta tão ululante, furiosa e de tanta duração. Das janelas do nosso hotel avistávamos o mar, coberto por completo de bruma, e apenas distinguíamos, diante dos nossos próprios olhos, um estreito semicírculo varrido pela chuva, agitado e sacudido, até parecer uma superfície ininterrupta de espuma. O vento soprava com tal força contra as ondas que quase não deixava o mar elevar-se porque arrancava entre alaridos a crista de cada onda e esparramava-a num ápice por toda a baía. As nuvens, o vento, o mar, tudo se precipitava para Oeste e a contemplar aquela confusão dos elementos esperei dois dias, tendo por única companheira uma mulher pálida e silenciosa que, com uma expressão de espanto nos olhos e apertando a testa contra o cristal da janela, permanecia desde o amanhecer até que escurecesse com o olhar fixo naquele muro de bruma cinzenta de onde poderia surgir a qualquer momento a sombra de uma embarcação. Não dizia uma palavra, mas o seu rosto era como um largo gemido de medo.

No quinto dia de tormenta consultei um velho marinheiro. Teria preferido fazê-lo sozinho, mas ela viu-me a falar com ele e aproximou-se imediatamente, com os lábios entreabertos e uma expressão de súplica no olhar.





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