Contos de Mistério - Cap. 4: DE PROFUNDIS
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Calculando a olho, estamos a menos de trezentas milhas do Funchal, de maneira que creio que o melhor que podemos fazer é seguir até lá, levar Mr. Vansittart ao hospital e esperar na baía que os senhores cheguem. Ouvi dizer que daqui a poucos dias sai um veleiro de Falmouth para o Funchal. Envio esta pelo bergantim Marian, de Falmouth, devendo abonar cinco libras ao capitão.

Respeitosamente, Jno. Hines

Aquela era uma mulher admirável, embora fosse apenas uma rapariga recém-saída do colégio, mas tão serena e forte como um homem. Não disse nada. Limitou-se a apertar com força os lábios e pôs o chapéu.

- Vai sair? - perguntei-lhe.

- Sim.

- Posso ser-lhe útil?

- Não. Vou falar com o médico.

- Com o médico?

- Sim, para me explicar como se deve tratar um doente com varíola.

Esteve ocupada com isso até a noite chegar e na manhã seguinte fizemo-nos ao mar no brigue Rose of Sharon com rumo à Madeira, soprando uma agradável brisa de dez nós.

Navegámos bem durante cinco dias e já não estávamos muito distantes da ilha; mas no sexto dia declarou-se uma calmaria e flutuámos num mar de azeite, balouçando-nos pesadamente, mas sem avançar meio metro.

Às dez daquela noite estávamos Emily Vansittart e eu encostados à amurada de estibordo, no lado do toldo. A Lua cheia projectava o seu clarão nas nossas costas, desenhando as nossas sombras, por cima da sombra do navio, sobre as águas brilhantes. Um caminho traçado pelo clarão da Lua arrancava desde essa sombra e ia-se desvanecendo até à linha solitária do horizonte, pestanejando e mexendo-se com a suave ondulação da agitação das ondas. Conversávamos, com as cabeças inclinadas sobre a calmaria, acerca das possibilidades de que se levantasse vento e do aspecto do céu, e de súbito ouviu-se um plop! na água, como o de um salmão que salta fora dela, e ali, em plena claridade, John Vansittart emergiu das águas e encarou- nos.





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