O Sinal dos Quatro - Cap. 1: 1 - A Ciência da Dedução Pág. 4 / 133

Mais de uma vez, durante os anos em que vivi com ele em Baker Street, notei que havia alguma vaidade por detrás da atitude calma e didáctica do meu companheiro. Não fiz observação alguma, contudo, sentando-me para repousar a minha perna ferida. Levara um tiro de um arcabuz afegão, há algum tempo, e, embora conseguisse andar, sentia dores terríveis sempre que o tempo mudava.

- Recentemente a minha actividade passou a abranger também o Continente - disse Holmes, momentos depois, ao mesmo tempo que enchia o seu velho cachimbo. - Fui consultado na semana passada por François le Villard, que, como provavelmente sabe, se tornou ultimamente num dos melhores detectives franceses. Possui toda aquela faculdade celta da intuição rápida, mas é deficiente no vasto campo do conhecimento exacto, que é essencial para o total desenvolvimento da sua arte. O caso relacionava-se com um testamento e possuía alguns aspectos interessantes. Eu estava preparado para lhe indicar dois casos idênticos, o de Riga, em 1857, e o de St. Louis, em 1871, os quais lhe sugeriram a verdadeira solução. Aqui está a carta que recebi esta manhã agradecendo a minha colaboração.

Atirou-me uma folha amarrotada de papel de carta estrangeiro. Dei-lhe uma olhadela, notando uma profusão de pontos de exclamação e de magnifiques, coup-de-maitres e tours-de-force, que testemunhavam a ardente admiração por parte do francês.

- Parece um aluno a falar para o professor - disse eu.

- Oh ele valoriza excessivamente a minha colaboração, - retorquiu desprendidamente Sherlock Holmes. - Ele próprio tem dons consideráveis. Possui duas das três qualidades necessárias ao detective ideal: tem capacidade de observação e de dedução.





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