O Sinal dos Quatro - Cap. 1: 1 - A Ciência da Dedução Pág. 9 / 133

- Mas não se tratava de uma mera suposição?

- Não, não: nunca faço suposições. É um hábito que destrói a faculdade lógica. O que lhe parece estranho só tal lhe parece porque não acompanhou a sequência do meu pensamento ou não observou os pequenos factos de que dependem as grandes inferências. Por exemplo, comecei por afirmar que o seu irmão era descuidado. Se observar a parte inferior da caixa do relógio pode notar que não só está amolgada em dois sítios, como também apresenta sulcos e marcas devidos ao hábito de guardar outros objectos duros, como moedas ou chaves, no mesmo bolso. Não é decerto uma grande façanha afirmar, acerca de uma pessoa que trata tão despreocupadamente um relógio de cinquenta guinéus, que é descuidada. Nem se trata de uma inferência muito forçada concluir que alguém que herda um artigo tão valioso tenha ficado numa boa situação sob outros aspectos.

Acenei afirmativamente, mostrando que seguia o raciocínio.

- É habitual que os prestamistas, em Inglaterra, ao receberem um relógio, gravem os números da cautela com um alfinete sobre a parte de dentro da caixa. É mais prático que uma etiqueta, pois não há o risco de perder o número ou de o trocar. Existem nada menos que quatro desses números visíveis à lupa no interior da caixa. Inferência: o seu irmão . encontrava-se frequentemente em dificuldades. Inferência secundária: tinha ocasionais momentos de prosperidade, caso contrário não poderia desempenhar o relógio. Finalmente, peço-lhe para observar a placa interior, onde está o buraco da fechadura. Veja as centenas de riscos à volta do orifício - são marcas deixadas onde a chave escorregou. Uma pessoa sóbria não faria esses riscos com a chave. Mas nunca encontrará um relógio de um bêbedo sem eles.





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