O Sinal dos Quatro - Cap. 10: 10 - O Fim do Homem da Ilha Pág. 97 / 133

Holmes sacara já o revólver, e eu tirei o meu ao ver aquela criatura selvagem e desfigurada. Tinha à volta do corpo uma espécie de sobretudo ou cobertor escuro que apenas deixava à vista a cara, mas uma cara que provocaria uma noite de insônias a qualquer pessoa. Nunca vira feições marcadas por uma tal brutalidade e crueldade. Os olhos, pequenos, tinham um brilho intenso e malévolo e os lábios deixavam ver os dentes a bater, numa expressão de fúria animalesca.

- Se ele erguer a mão disparamos - disse Holmes calmamente.

Agora apenas nos separava deles o comprimento de um barco. Ainda lembro a imagem dos dois homens, o branco com as pernas afastadas, praguejando, o ímpio anão com a sua cara hedionda e os dentes fortes e amarelos a ranger para nós sob a luz da lanterna.

Felizmente que o conseguíamos ver tão bem quando tirou de baixo da sua cobertura um curto tubo de madeira e o levou aos lábios. As nossas pistolas ressoaram ao mesmo tempo. Rodopiou, ergueu os braços, e, com um grito abafado, caiu ao rio. Tive um vislumbre dos seus olhos maldosos e ameaçadores no meio do redemoinho branco das águas. Nesse mesmo instante o homem da perna de pau correu para o leme e virou-o bruscamente, de maneira que o barco se dirigiu para a margem sul, enquanto nós passávamos rente à' sua popa. Depressa voltámos a persegui-la, mas a lancha já quase que atingira a margem. Era um lugar agreste e desolado, onde a Lua brilhava sobre uma vasta extensão de terrenos pantanosos, com lagos de água estagnada e zonas de vegetação decadente. A lancha, com um ruído surdo, embateu na margem lamacenta, ficando com a proa no ar e a popa inundada. O fugitivo saltou para fora, mas a perna de pau logo se enterrou completamente no solo ensopado.





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