Eneida - Cap. 1: A Queda de Tróia Pág. 16 / 235

Ataviado então para a luta, Eneias dirigiu-se novamente para a porta da casa onde apareceu a sua esposa Creusa, com o menino Ascânio ao colo. Abraçando-se a seus pés, falou assim:

— Se vais resolvido a morrer, leva-nos também contigo para o que a sorte nos reservar. Mas, se tens alguma esperança de sobreviver, defende primeiro o teu lar. Se partes, a quem entregas o teu filho, a mim, tua esposa, e o teu velho pai?

E ao dizer tal coisa, enchia a casa com o seu pranto. Ocorreu então um prodígio que os deixou estupefactos. Sobre a cabeça do menino Ascânio, que se achava entre os braços dos chorosos pais, apareceu uma ligeira labareda. Espargiu-se o fogo sobre os cabelos da criança e lambia os seus canudos sem, no entanto, causar qualquer queimadura. A chama subia e descia ao longo da testa. Aterrados, os pais sacudiram-lhe os cabelos incendiados, tentando apagar as chamas sagradas com égua. Então, Anquises, alegre, levantou os olhos e os braços para os astros e bradou:

— Ó omnipotente Júpiter, se atendes a alguma prece, olha para nós que te pedimos! E se alguma piedade te merecemos, dá-nos teu auxilio, ó pai, e confirma esses agouros.

Mal o ancião proferira aquelas palavras e eis que, do lado esquerdo da casa, se ouviu o ribombar de um trovão e uma estrela caiu do céu, deixando atrás de si um facho de luz. O astro cadente passou por sobre os telhados e mergulhou na escuridão, para os lados dos bosques do monte Ida, deixando um sulco luminoso no firmamento e espalhando um penetrante odor de enxofre queimado.

Prostrado em adoração às potesdades celestiais, bradou Anquises:

— Não há tempo a perder. Eu vos sigo e deixar-me-ei conduzir para onde quiserdes. Deuses Átrios, conservei a minha familia e protegei o meu neto. Certo é o vosso augúrio e Tróia está sob a vossa protecção.





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