Eneida - Cap. 9: Os troianos são Cercados Pág. 162 / 235

Euríalo respondeu:

— Certamente, amigo Niso, não pensavas em atirar-te a tão arriscada empresa sozinho, deixando-me para trás! Ofeltes, meu pai, acostumado as lides de Marte, não me instruiu assim quando me educava no meio dos perigos da grande guerra de Tróia. Desde criança que tenho visto a selvajaria da batalha e os morticínios e assisti ao incêndio da minha própria casa. Não, Niso, não iras só, pois aqui está alguém para quem a vida não é um preço muito alto a pagar-se pela fama e glória.

Retrucou-lhe o amigo:

— Não esperava outra coisa de ti e nunca me passou pela cabeça que refogasses do perigo ou que não te empregasses com o máximo valor no cumprimento de qualquer missão. E nenhum outro desejaria eu mais, caro amigo, ter como companheiro, na ocasião de perigo. Mas devesse eu, por algum desejo das Parcas, encontrar a morte e desejar-te-ia vivo, para que me desses um funeral condigno, resgatando o meu corpo ao campo de batalha ou ao inimigo, a troco de dinheiro e — se algum obstáculo houvesse a tal coisa—que a meu corpo desaparecido fossem realizadas honras fúnebres e reservado sepulcro vazio. És muito jovem ainda e a tua idade é digna da vida. Além disso, como poderia eu olhar novamente a tua mãe nos olhos, ela que, desprezando o conforto da terra de Acestes, preferiu seguir-te por todos os perigos do mar, se por acaso retornasse sem o seu filho querido?

Euríalo, porém, manteve-se resoluto:

— Inutilmente procuras pretextos. A minha resolução já foi tomada e não a mudarei. Apressemo-nos.





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