Eneida - Cap. 10: A Assembleia dos Deuses Pág. 179 / 235

E continuou Juno:

— Que diremos quando arrancarem das mãos dos pais filhas já prometidas a outros, quando com uma das mãos pedirem a paz, enquanto com a outra acenam as armas? Tu podes subtrair o teu filho às lanças inimigas, transformar os seus barcos em ninfas. Porque não nos será permitido ajudarmos os rótulos? Eneias está ausente, ignorando o que se passa e que assim continue. Tu mesmo disseste que tens Pafo e a elevada Clteta. Porque então provocas uma cidade aguerrida e os corações destemidos dos meus bravos guerreiros? Acaso somos nós que pretendemos derrubar dos alicerces os miseráveis restos de Tróia? Qual foi a causa primeira de tudo isso, de se levantarem em armas a Europa e a Ásia, de se romperem as antigas alianças? Não foi o rapto de Helena? Foi por meu conselho que o miserável Páris a tirou de Esparta? Ou dei eu armas e fomentei guerras pelo amor? Agora é tarde para te levantares com queixas e reclamações, censurando a quem não deves.

Ao discurso de Juno, a maior parte dos deuses pôs-se a seu favor. Discutiam em murmúrios como quando o vento faz agitar as primeiras folhas das árvores, anunciando a tempestade aos navegadores. Mas Júpiter dispôs-se a falar e então reinou o silêncio na morada dos deuses. Também a terra ficou trémula de susto nas suas bases, o elevado éter não se agitava, as brisas aquietaram-se e o mar aplacou as suas ondas. E ele disse:

— Guardai em vossos corações estas palavras: como não é possível unir Talos e troianos em aliança, nem pôr fim a essa discórdia entre a minha augusta esposa Juno e a minha querida filha Vénus, decreto que esses mortais, sejam de um ou de outro lado, sigam os seus próprios destinos sem que eu os impeça ou ajude. Não favorecerei nem um nem outro. Deixai-os seguir os conselhos de seus próprios corações para o próprio bem ou para a própria desgraça. Não sou o rei de ambos? Então, não farei distinção entre eles e exorto-vos a que não o façais também!





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