Eneida - Cap. 11: O Rei Latino Pede Paz Pág. 204 / 235

Este discurso enfureceu Turno, que retrucou:

— Nunca, Drances, te faltaram as palavras certas e fáceis, quando a guerra exige braços e feitos. És o primeiro que se apresenta quando são convocados os conselheiros, mas não são pelavas vazias—embora ditas em tom ousado e altissonante — que repelirão o inimigo das muralhas, que o expulsarão dos fossos. Tu, ó vilão cínico, acusas-me de cobardia. Mostra-me, então, os montes dos inimigos que derrubaste e os muitos troféus que ornamentam a tua morada. É ocasião de provares o que a tua coragem pede. Não precisamos ir longe para procurar o adversário. Ele está aqui, perto das nossas cidades, ao redor das nossas muralhas. Porque não te adiantas? Será que todo o teu valor estará na tua língua empolada e nos teus pés ligeiros? Mentiroso, que falsamente me acusas de virar as costas aos inimigos! Eu, na verdade vencido! Pergunta ao corpo de Pandaro, de Bitia, e dos muitos guerreiros troianos que enviei ao Tártaro, quando encerrado e preso dentro do seu próprio entrincheiramento. Não há salvação nesta guerra! Chega de falsos medos por uma raça duas vezes vencida, chega de deprimir os guerreiros latinos! Silencia essa língua mentirosa e guarda o veneno atrás dos dentes! Ou então sai pelos portões e vai aterrar com as tuas palavras o inimigo fora das muralhas. Há milhares deles marchando pata cá. Porque te deténs? Avança, guerreiro intrépido, e conduz-nos à vitória! Agora dirijo-me a ti, ó rei e pai, e as tuas graves deliberações. Se realmente não vês nenhuma esperança nas nossas armas, se estamos de animo tão abatido, e se por causa de uma batalha perdida consideramos perdida a guerra, então peçamos a paz e estendamos a Eneias as mãos desarmadas. Se, ao menos, nos restasse algum valor! Mais felizes do que nós são aqueles que, para não verem tal vergonha, caíram moribundos nas praias ítalas. Mas se nos sobram recursos, se temos uma juventude aguerrida quase intacta, se há tantas cidades e povos ítalos para nos auxiliarem e, se por outro lado, a vitória dos troianos lhes custou milhares de vidas, se eles tiveram os seus funerais, se o desastre foi igual para todos, porquê desfalecer e desistir logo no começo da guerra? Porque se vos enche a alma de medo, antes de ouvir o som da trombeta da Morte? O tempo e o êxito inconstante da vida muitas vezes mudam as coisas para melhor. Não estou desanimado por Diomedes nos ter recusado ajuda. Há muitos outros que cerrarão fileiras a nosso lado, como Messapo, Tolúmio e vários chefes de outras tribos. Logo alcançaremos brilhante vitória nos campos laurentinos.





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