Eneida - Cap. 2: Partem os Troianos Pág. 28 / 235

Assim falando, enchia o santuário com o seu pranto e gemidos. Perturbado por ver tanto sofrimento, Eneias respondeu:

— Estou vivo, é verdade, e arrasto a minha vida por entre mil e um perigos. Mas que te reservou o destino, Andrómaca, viúva de homem tão valoroso? Gozas de grande fortuna? É verdade que estas casada com Pirro, o terrível filho de Aquiles?

A isso ela baixou os olhos e respondeu com voz fraca e humilde:

— Oh! Quão feliz foi aquela donzela, filha de Príamo, morta ao pé da sepultura de um inimigo, junto às altas muralhas de Tróia, que não foi destinada a ser a esposa cativa de um senhor vitorioso e arrogante. Como foi pior o meu sofrimento! Incendiada Tróia, assassinado o meu filho, levada pelos mares longínquos sob o jugo da escravidão, tive de suportar o desprezo do descendente de Aquiles, que roubara a vida do meu querido Heitor. Aconteceu que esse jovem soberbo se afeiçoou a Hermione, filha de Leda e noiva de Orestes, e roubou-a na véspera do casamento. Entregou-me então a Heleno, filho de Príamo. Assim, eu, uma escrava, casei-me com um escravo. Orestes, no entanto, infamado por grande amor à noiva arrebatada e assolada pelas Fúrias, atacou Pirro desprevenido e matou-o, junto dos altares dos seus ancestrais, com uma punhalada no coração. Pela morte de Pirro, parte de seus reinas passou por herança a Heleno, que a denominou Caônia em honra a seu irmão Caone. Aqui fundou ele uma cidade, à semelhança de Tróia, e uma cidadela elevada, a que chamou Pérgamo, em homenagem àquela outra, destruída. Mas dize-me, Eneias, que fados te trouxeram aqui? Ou que deus te conduz às nossas praias sem o saberes? Que é feito do menino Ascanio? Ainda vive esse filho a ti dado por Creusa? Tem o menino saudades da mãe morta? Brilha nele o valor do pai e do tio Heitor?





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