Eneida - Cap. 2: Partem os Troianos Pág. 35 / 235

Ante aquela visão aterradora, os exilados refugiaram-se nos bosques próximos durante toda a noite, tremendo de pavor a cada novo relâmpago e estrondo da montanha poderosa.

No dia seguinte, quando se levantava do mar a Aurora dourada, afastando do céu as nuvens chuvosas, eis que subitamente saiu das solvas uma figura desconhecida de homem, extremamente magro, vestido com farrapos, estendendo-lhes suplicante a máo. Os troianos encararam-no. Apesar da imundície espantosa e da barba longa do estranho, viram que se tratava de um grego e que provavelmente tomara parte no assalto e no saque à sua querida cidade. Reconhecendo os trajes e as armas troianos, o desconhecido parou, aterrado, mas em seguida atirou-se para a frente precipitadamente, exclamando:

— Ó troianos, peço-vos, pelos astros, pelos deuses celestes e pela luz que emana dos céus, que me leveis daqui! Conduzi-me a quaisquer paragens! Sou grego, reconheço-o, e confesso que ataquei a majestosa Tróia. Se julgardes grande demais o meu crime, atirai-me às ondas como castigo, para que morra. Se tal acontecer, ainda assim ficarei alegre de ter perecido a mãos humanas.

Assim dizendo, arrojou-se aos pés de Eneias e dos seus, abraçando-lhes os joelhos. Exortaram-no então a que dissesse quem era, de quem descendia e de como os fados o tinham trazido àquele lugar. O próprio Anquises deu a mão direita ao jovem e fortificou-lhe o ânimo, de modo que o infeliz começou a contar a sua história:

— Sou de fraca, companheiro do infeliz Ulisses, e meu nome é Aquémenes. Sou filho de Admasto. Vindos de Tróia, paramos aqui para nos refazermos. Eu e os meus companheiros fomos aprisionados pelo rei dos Ciclopes, Polifemo, em sua caverna. Quando os outros escaparam daquela prisão tenebrosa, deixaram-me, inadvertidamente, pois eu tinha-me escondido num recesso profundo do escuro antro daquela mansão de festins sangrentos.





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