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Capítulo 2: Partem os Troianos

Página 36

Ó deuses, suo ainda de horror quando penso naquele local e no seu cruel senhor. Sendo embora gigantesco, não é fácil de se ver, nem afável ao trato. Alimenta-se das entranhas e do sangue negro dos infelizes que consegue capturar. Eu mesmo o vi, deitado de costas no centro do covil, a quebrar de encontro às rochas os corpos de dois dos nossos. Prendendo-os na mão enorme comia-lhes os membros, enquanto lhes escorria o sangue escuro e tremiam as carnes ainda quentes, entre os dentes colossais. Mas tal crime não ficou impune e nem Ulisses o permitiria. Assim, quando o monstro, farto com as iguarias e adormecido pelo vinho forte que o esperto Ítaco lhe colocara à mão, se entregou a profundo sono, nós, orando aos deuses, vazamos-lhe o único olho que se esconde sob a sinistra fronte, com um estaca aguda e incandescente. Mas fugi, ó desgraçados, fugi e cortai as amarras dos vossos barcos. Tão grande quanto Polifemo, que ordenha cem ovelhas a uma só vez, vagueiam por perto cem outros Ciclopes, nestas praias curvas e nestes montes. Durante estes três últimos meses tenho-me arrastado na floresta, por entre as cavernas desertas ou habitadas por feras. De vez em quando subo a uma elevação para olhar de longe os enormes gigantes e estremeço ao som do bater dos seus pés e do estrondear da sua voz. Só me tenho alimentado de frutas silvestres, ervas e raízes. Numa dessas ocasiões avistei esta armada que demandava a costa e resolvi entregar-me a ela, qualquer que fosse a origem. Fugir dos Ciclopes, basta-me. Podeis agora dar-me o destino que quiserdes.

Mal tinha o grego acabado de falar, avistaram eles no cume de um monte o próprio pastor Polifemo, movendo entre as ovelhas a sua enorme corpulência e caminhando na direcção da praia. Era horrenda essa visão do monstro disforme e cego. Como bastão, usava um pinheiro cortado, para firmar os passas. Atingindo o mar, o Ciclope levou com as mãos água salgada à órbita tinta de sangue que Ulisses lhe vazara. Rangiam-lhe os dentes de dor e, embora já tivesse avançado muitos metros mar adentro, as ondas mal Ihe chegavam aos quadris.

Apavorados, os troianos lançaram-se à fuga, carregando consigo o grego. Levantaram as amarras e, inclinados e quedas nos bancos, davam aos remos sem descanso. Porém, o Ciclope ouviu-os e voltou-se para onde estavam, golpeando o ar e o mar com as mãos, sem direcção.

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Capa do livro Eneida
Páginas: 235
Página atual: 36

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
A Queda de Tróia 1
Partem os Troianos 20
Eneias Chega a Cartago 38
Eneias e Dido 57
Os Jogos Fúnebres 79
Eneias no Mundo das Sombras 102
Os Troianos Desembarcam na Itália 124
Eneias em Apuros 141
Os troianos são Cercados 157
A Assembleia dos Deuses 177
O Rei Latino Pede Paz 195
O Combate Final 215