Eneida - Cap. 3: Eneias Chega a Cartago Pág. 42 / 235

Nesse interim, Eneias subiu a um rochedo e dirigia a vista para o mar, procurando divisar o vulto conhecido de algum navio troiano que também tivesse escapado à tormenta. Nada viu na direcção das águas. Voltou-se para terra e avistou três bandos de veados a pastar nas proximidades da praia. Agarrando no arco e nas setas conduzidas pelo fiel Acates, fez tombar os três chefes, de grandes galhadas e cabeças levantadas, pondo em fuga os animais por entre os bosques frondosos. Lançando-se em sua perseguição abateu mais quatro, perfazendo o total de sete, um para cada navio. Depois de suprir os seus patrícios de carne farta e de bom vinho que obtiveram nas costas da Sicília, Eneias, vendo os seus companheiros desanimados, falou-lhes assim:

— Ó amigos, as nossas provações têm sido duras. Entretanto, embora as nossas perdas sejam grandes, conseguimos pelo menos salvar-nos. O Pai Celestial nos preservara de outros perigos. Chegastes perto dos rochedos de Cila e do antro de Caribdis, pisastes na terra dos Ciclopes e de tudo conseguistes sair com vida. Levantai, pois, os vossos animas e mandai embora os temores vãos. Talvez até um dia vos venha a ser agradável recordar tais aventuras, cheias de perigos e de situações variadas, nesta nossa jornada para o Lácio, onde os oráculos nos predizem uma existência pacifica e feliz. Lá faremos ressurgir o reino de Tróia. Perseverai e conservai-vos para as coisas venturosas.

Embora o seu rosto e a sua voz simulassem esperança e coragem, o seu coração comprimira-se de dor e desespero.

Preparam-se todos para a refeição, trinchando os veados e assando os pedaços nos espetos. Deitaram-se para restaurar as forças e procuravam aquecer-se com o vinho generoso, sentados em torno das fogueiras e conversando — entre o receio da morte e a esperança de vê-los novamente — sobre os seus companheiros perdidos. Eneias pranteava a sorte do ardente Otontes de Amico, de Lico, do forte Gras e do corajoso Cloanto.





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