Eneida - Cap. 3: Eneias Chega a Cartago Pág. 48 / 235

Aqui, grupos de homens dragavam um ancoradouro. Além, outros lançavam as fundações de um teatro ou extraiam blocos de pedra da montanha para construir colunas enormes que circundavam o palco das representações. Assemelhavam-se às abelhas que, ao Sol do Verão, saem pelos campos floridos à frente dos enxames e, todas juntas, realizam mais uma vez aquelas tarefas antigas como o mundo, colhendo o doce néctar e enchendo os seus favos até transbordarem com o fino suco das flores. Não há qualquer descanso para aquelas operarias aladas até o fim do estio, quando as colmeias estão cheias de mel grosso, perfumado e doce. Assim parecia a Eneias essa colónia de Tiro e disse, olhando para as torres da cidade:

— Felizes sois, que já levantais as vossas muralhas.

Envolvidos na nuvem que lhes mandara Vénus — coisa admirável! — os dois troianos introduziram-se no meio do povo e ninguém se apercebeu deles.

No centro da cidade, erguia-se um bosque de aprazível sombra. Ali, naquele mesmo lugar, tinham os cartagineses —  náufragos de Tiro lançados àquelas paragens pelas ondas e pelo tufão — desenterrado uma cabeça de bronze representando um fogoso cavalo. Era o primeiro sinal que Juno lhes enviara de que a sua nação haveria de ser notável na guerra, rica e poderosa por muitos séculos. Dido, a rainha, ordenara que ali se construísse um grande templo em homenagem à deusa a quem costumava oferecer ricas oferendas. Tinha portais de bronze e de bronze eram as suas vigas. As portas de prata giravam em gonzos de cobre e abriam-se na base de uma enorme escadaria de mármore brilhante.

Eneias divisou uma coisa que lhe fez recobrar o animo e a esperança. Enquanto esperava a rainha, corria a vista pelos painéis que ornavam o templo — trabalho paciente de muitos artistas — e percebeu que neles estavam representados os combates travados em Tróia, que já se haviam divulgado por todo o mundo.





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